The Substance
Uau, levei algum tempo a entender o que acabei de assistir. The Substance está repleto de camadas temáticas, cada uma desvendando algo mais profundo, deixando-nos a pensar muito tempo depois dos créditos. Uma das mensagens mais claras é como nos percebemos e o valor efémero que atribuímos a conceitos superficiais como a beleza. O filme desafia-nos a questionar: até onde estamos dispostos a ir para manter essa beleza? À medida que a história se desenrola, mergulha na ganância e egoísmo que muitas vezes nos impedem de fazer sacrifícios, mesmo quando aqueles que deveríamos ajudar são tão semelhantes a nós—ou, neste caso, somos nós.
O terceiro ato certamente vai dividir o público. Alguns podem achar a sua natureza gráfica avassaladora, mas por trás do body horror existe uma crítica contundente a Hollywood e à indústria do entretenimento. O filme expõe implacavelmente como as pessoas são tratadas como mercadorias descartáveis—desprezadas assim que se desviam da norma ou, aos olhos deles, se tornam ‘aberrações’. Este ato ressoou comigo, embora eu acredite que o intenso body horror distraia da transformação mais fascinante da personagem—uma que é tão emocional quanto física.
Demi Moore está fenomenal neste papel, oferecendo não apenas uma das suas melhores atuações, mas talvez a mais pessoal até agora. Moore, que é admirada há muito pelo seu talento e beleza, interpreta uma personagem que luta contra o esquecimento e a desvalorização, apesar de ainda ser deslumbrante. Sabendo que Demi tem 61 anos e continua a parecer absolutamente impecável, não consigo deixar de traçar paralelos entre a sua personagem e a sua própria vida. O elenco aqui é simplesmente genial.
Coralie Fargeat prova mais uma vez a sua mestria em explorar o poder bruto das mulheres. Tal como em Revenge, ela utiliza o corpo feminino não para exploração, mas como uma ferramenta de empoderamento. Mesmo com nudez e alguns closes que, nas mãos de outros, poderiam parecer exploratórios, a direção de Fargeat faz com que tudo pareça intencional, poderoso e nada gratuito. O seu uso de cores e aqueles ângulos de câmera voyeuristas elevam o filme, mergulhando-nos mais profundamente na psicologia destas personagens.
Vivemos a história a partir de múltiplas perspetivas, e enquanto Demi Moore traz um ar de tragédia, Margaret Qualley entrega uma atuação que é nada menos que hipnotizante. A sua beleza é inegável, mas é a sua energia primal, quase animalística, que realmente cativa. Ela comanda a tela, deixando uma impressão duradoura em cada cena.
E depois há o final—o elemento de que todos vão falar. É um final ousado e divisivo que ou vai fazer você amar o filme ainda mais ou deixá-lo em conflito. Pessoalmente, estou dividido. Embora isso diminua ligeiramente o impacto da mensagem do filme, em termos de body horror, é uma das sequências mais bem executadas que vi nos últimos anos. O design, o gore, o shot poético final—está tudo magistralmente feito.
Ainda não consigo superar como Demi está incrível aos 61 anos, e não pude deixar de imaginar os rostos atónitos no festival de Cannes ao ver isso acontecer.
Você já viu The Substance? Qual é o seu filme de body horror favorito?